"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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PAX ET BONUM

sábado, 29 de setembro de 2012



Ser discípulo sem rivalidade

Antes, Mc falou em acolher pequenos “em nome de Jesus”. Encadeando outras sentenças no mesmo item, passa agora ao assunto do exorcizar “em nome de Jesus” (associação verbal, muito comum na tradição oral dos primeiros cristãos) (evangelho).
Logo nos albores da comunidade cristã, milagreiros e exorcistas não cristãos, notando a força do “nome de Jesus” (cf. At 3,6.16; 4, 10), tentavam usar esse
nome em seus “trabalhos”. Mas os cristãos exigiam direitos autorais. Como resposta, Mc traz uma sentença de Jesus: “Quem não é contra nós, é por nós”. Resposta de bom senso e desapego évangélico, pois o importante é que o nome de Jesus seja honrado. Mas quem considera o grupo mais importante que o nome de Jesus fica indisposto. Não aceita que os dons cristãos floresçam fora da Igreja.
Jesus presta pouca atenção a esse tipo de objeções. Os que por ele foram reunidos não devem pensar que eles são os únicos em quem possa operar seu espírito. Ser reunido por Cristo é uma graça, mas não um monopólio. Pelo contrário, devemos desejar que seus beneficios sejam espalhados o mais amplamente possível. Já Moisés deu aos hebreus uma lição neste sentido. No momento da assembléia dos setenta anciãos que receberam “algo do espírito de Moisés”, dois tinham ficado no acampamento; porém, receberam também o espírito profético. Josué quer impedi-los, mas Moisés retruca: “Oxalá o povo todo recebesse assim o espírito” (1ª leitura).
Estas idéias escandalizam aqueles para quem o grupo é tudo. Ora, não a Igreja em si, mas Cristo e seu espírito são o mais importante. (Não se alegue o velho adágio: “Extra Ecclesiam nulla salus”, pronunciado contra os que abandonavam a Igreja.) Mas escandalizam-se também os que só conhecem aquela outra sentença de Jesus: “Quem não é comigo, é contra mim” (Mt 12,30 = Lc 11,23), pronunciada num contexto de inimizade (os escribas acusam Jesus de expulsar demônios pela força de Beelzebu); pois em tal contexto, é preciso escolher: quem não se coloca do lado de Jesus se coloca do outro. Mas isso nada tem a ver com o caso de alguém que recebe os dons do Cristo fora da Igreja.
Sempre no item do “nome”, Jesus promete recompensa pelo mínimo benefício feito a alguém “em nome de ser do Cristo” (9,41). E já que se estava falando também de “pequenos” (cf. v. 37), cabe dizer algo sobre o escândalo dado aos pequenos (9,42). E, continuando com o item “escândalo”: a gente tem que erradicar de sua vida as raízes do escândalo, as causas das fraquezas na fé, assim como se amputa uma mão quando ela põe o corpo em perigo (ou como se extrai um dente quando causa enxaqueca) (9,43-48).
O evangelho trata, portanto, de assuntos diversos. Ora, o conjunto da liturgia acentua o tema da ação de Deus fora da assembléia “oficial”. Este ponto deve reter a atenção da catequese litúrgica, e é muito importante em nosso ambiente, onde macumbistas e espíritas fazem “trabalhos” em nome de Jesus (e com sucesso). Existe uma mentalidade de combater o sincretismo religioso. Talvez seria mais evangélico ponderar – sem esconder os problemas – o bem que eventualmente façam e reconhecer que lá também Deus pode levar alguém a colocar em obra o seu amor. Tal atitude mostrará a face compreensiva da Igreja, procurando reconhecer em tudo o bem – e levaria menos pessoas a procurar a umbanda por não encontrar resposta humana num catolicismo formalizado e ríspido (11).
11. Pensando no diálogo em torno de problemas econômicos e ecológicos de nosso mundo, devemos pensar nas coisas boas que podem ser feitas “em nome de Jesus” mediante pensamentos que não nasceram no âmbito da cristandade.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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