A liturgia de hoje fala de crime e castigo e, sobretudo, de
restauração, pois Deus não quer a morte do pecador, e sim, que ele mude
de caminho e viva (cf. Ez 18,23.32). A 1ª leitura mostra como os
israelitas se afastaram de Deus. Quando, porém, foram exilados de sua
terra e levados à Babilônia, entenderam que sua desgraça era um sinal
de seu afastamento. Voltaram seu coração para Deus, que os fez voltar à
sua terra. Essa história prefigura a volta de todos os seres humanos
para Deus, reconduzidos pelo amor que Cristo manifestou.
Os que estávamos mortos pelo pecado, mas acreditamos em Cristo,
fomos salvos pela graça recebida na fé: “Pela graça fostes salvos” (2ª
leitura). Nossos erros mostram que, por nós mesmos, não somos capazes
de trilhar o caminho certo. A única maneira de “voltar” é deixar-nos
atrair pela oferta de amizade de Deus.Não nos salvamos pelas nossas
obras (no sentido de esforços para “merecer”), mas Deus nos salva para
as boas obras que ele preparou para que nós entrássemos nelas: a
caridade, a solidariedade… (Ef 2,10). Não são as nossas obras que nos
salvam: quem nos salva é Deus. Mas o que fazemos – a nossa prática de
vida fraterna e solidária – encarna nossa salvação.
O evangelho expressa idéias semelhantes. É o fim do diálogo de Jesus
com Nicodemos, o fariseu. O trecho que lemos hoje inicia com uma
lembrança do Êxodo. Deus tinha castigado a rebeldia do povo com a praga
das serpentes. Para os livrar da praga, Moisés levantou numa haste, à
vista dos israelitas, uma serpente de bronze. Os que levantaram com fé
os olhos para este sinal ficaram curados. Assim devemos levantar com fé
os olhos para o Cristo elevado na cruz e receber dele a salvação, pois
Deus o deu ao mundo para que testemunhasse seu amor até o fim. “Tanto
Deus amou o mundo….”(Jo, 3,14-16). A liturgia da Quaresma insiste: o
pecado não é irreparável. Para os que crêem, existe volta, conversão,
perdão e salvação. Jesus não veio para condenar, mas para salvar. Ele é
a luz que penetra nossas trevas. Mas há quem fuja da luz, para não
admitir que está agindo de maneira errada. Nesse caso, não há remédio
(Jô 3,19-21). Assim como a gente gosta de expor-se ao benfazejo sol da
manhã, devemos expor-nos à luz de Cristo. Sua prática deve iluminar
nossa vida, para que “pratiquemos a verdade”. Todos somos salvos ou
devemos ser salvos pelo amor de Deus que Cristo nos manifesta. Ninguém
fabrica sua própria salvação. O auto-suficiente permanece nas trevas,
ainda que sua suficiência pareça virtude, como era o caso dos fariseus,
aos quais se dirige a advertência do evangelho. Por outro lado, se nos
deixarmos iluminar por Cristo, sejamos também uma luz para nossos
irmãos. O evangelizado seja também evangelizador.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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