"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)
SEJAM BEM VINDOS!
PAX ET BONUM
sábado, 24 de março de 2012
Mensagem de Sua Santidade o Papa Bento XVI para o XLVI Dia Mundial das Comunicações Sociais (20 de Maio de 2012)
Tema: "Silêncio e palavra: caminho de evangelização"
Amados irmãos e irmãs,
Ao
aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo
partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspecto do processo
humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes
fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo.
Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da
comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para
se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas.
Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação
deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso
contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram
reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O
silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras
densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a
nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior
clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro,
discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que
fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos,
por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste
modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma
relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se
identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles
que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que
manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o
sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente
intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação
ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade
de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços.
Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o
silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou
acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação
existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter
ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que
se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um
conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente
propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar
silêncio, palavra, imagens e sons.
Grande parte da dinâmica
actual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os
motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da
comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões,
informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada
vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje
vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca
se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para
favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as
muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar
as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo
complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos
pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso
saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as
pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um
diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de
convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente
do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer
até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de
resposta que Deus inscreveu no coração do homem.
No fundo,
este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser
humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que dêem
sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma
simples e tolerante troca de cépticas opiniões e experiências de vida:
todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo
anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam
informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo,
as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das
Comunicações Sociais de 2011).
Devemos olhar com interesse
para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam
ajudar o homem actual não só a viver momentos de reflexão e de busca
verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de
oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua
essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só
versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um
não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que
surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o
silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a
encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as
coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como
mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O
silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é
etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada.
(...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes
momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exort. ap.
pós-sinodal Verbum Domini, 30 de Setembro de 2010, n. 21). No silêncio
da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo.
Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado
Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e
despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado
Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se
Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no
silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos
necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz
entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a
Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a Concelebração
Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de
Outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem
revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da
contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força
interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o
que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus
(cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte
do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o
seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de
vida, o seu dom de amor total que salva.
Depois, na
contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna
pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de
salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da
humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina
realiza-se por meio de «acções e palavras intimamente relacionadas
entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da
salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades
significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as
obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Const. dogm. Dei Verbum,
2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré,
mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a
conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e
Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a
liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do
homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração
humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da
Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se
anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que
promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.
Palavra
e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a
contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante
paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos
elementos essenciais e integrantes da acção comunicativa da Igreja para
um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria,
cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos
Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007), confio toda a
obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de
comunicação social.
Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.
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