Ternura do Poverello pelo Coração do Senhor
Francisco de Assis e sua paixão pelo Cristo Jesus
1. Aprendemos, ao longo de nossa vida, a nos
colocar reverentes diante do Cristo Jesus, sol, caminho, verdade, vida,
pão de nossas vidas. Temos plena convicção de que Jesus, o Filho de
Deus feito homem na carne de Maria, hoje vive entre nós na qualidade de
Ressuscitado. Cada vez que pensamos em Jesus, recordamo-nos de seu
amor que foi até o fim, até o esvaziamento de tudo que nele existia
pela fresta do coração, pela cavidade de seu peito aberto. Francisco de
Assis demonstrou um imenso amor pelo Cristo que ama até o fim.
2. Cristo é o Bom Pastor. “Irmãos, todos prestemos
atenção ao Bom Pastor que, para salvar suas ovelhas, suportou a Paixão
da cruz. As ovelhas no Senhor seguiram-no na tribulação e na
perseguição, na vergonha e na fome, na enfermidade e na tentação e em
outras coisas mais e a partir disso receberam a glória eterna” (Adm n.VI). Esse Jesus tão puro e tão belo é o Pastor que dá a vida pelos seus.
3. A devoção ao Coração de Jesus está vinculada ao
amor de Jesus manifestado na Eucaristia. Os que contemplam o peito
aberto de Cristo recebem com cortesia e humildade o corpo do Senhor:
“Pois eu lhes peço humildemente a todos vocês, meus irmãos,
beijando-lhes os pés, e com todo o amor de que sou capaz: testemunhem
toda reverência e toda honra tão grande como lhes é possível, ao Corpo
e ao Sangue santíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo, em quem foi
pacificado e reconciliado com Deus todo poderoso, tudo o que há no céu
e na terra” (Carta enviada a toda a Ordem 12-13).
4. Tomás de Celano não encontra palavras adequadas
para descrever o amor do Poverello por Jesus. Francisco estava sempre
sorvendo as águas límpidas que jorravam da fonte do puro amor, ou seja,
do Coração do Redentor. “Os irmãos que viveram com ele sabem com quanta
ternura e suavidade, cada dia e continuamente, falava-lhes de Jesus.
Sua boca falava da abundância do seu coração e a gente teria dito que a
fonte do puro amor, que enchia sua alma, jorrava de sua
superabundância. Quantos encontros entre Jesus e ele. Levava Jesus em
seu coração, Jesus em seus lábios, Jesus nos ouvidos, Jesus nos seus
olhos, Jesus em suas mãos, Jesus em toda parte. Durante as viagens
também, muitas vezes, de tanto meditar e cantar Jesus, esquecia-se de
caminhar e convidava todos os elementos a louvar Jesus com ele (1Celano 115).
5. Em toda a vida, após o encontro com o leproso,
Jesus ocupou todo o lugar de sua vida. E o amor apaixonado foi de tal
monta que, no final da caminhada, no alto do rude e solene Monte
Alverne, o Poverello ganha em suas carnes os sinais de Cristo. Quem
desceu do Alverne não era mais Francisco, mas “um outro Cristo”.
Boaventura descreve assim seu amor por Cristo: “Um dia, no princípio de
sua conversão, ele rezava na solidão e, arrebatado por seu fervor,
estava totalmente absorto em Deus e apareceu-lhe o Cristo crucificado.
Com esta visão sua alma se comoveu e a lembrança da Paixão de Cristo
penetrou nele tão profundamente que, a partir deste momento, era-lhe
impossível reprimir o pranto e suspiros quando começava a pensar no
Crucificado (Legenda Maior I,5). Ora, os que contemplam o Coração do Redentor também se comovem diante da Paixão do Amado que precisa ser amado.
6. Terminamos esse série de textos que falam do
amor do Poverello ainda com Tomás de Celano: “Francisco chorava em alta
voz pela Paixão de Cristo, como se tivesse diante de si,
constantemente, a visão dela. Na rua, ouviam-se os seus gemidos:
lembrando-se das chagas de Cristo, recusava todo consolo” (2Celano 11).
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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