“Deus-nossa-justiça”: o nome de nossa cidade?
Hoje iniciamos, mais uma vez, um novo ano litúrgico. Cada ano
litúrgico começa com o Advento – palavra que significa “vinda,
chegada”, a chegada de Jesus Messias na festa de Natal, comemoração de
seu nascimento. Desde o início deste novo ano, a liturgia suscita em
nós a esperança da justiça de Deus que vai chegar. Justiça não
significa simplesmente aplicar as leis da sociedade, pois essas nem
sempre são justas (muitas vezes são feitas para justificar o direito do
mais forte). Na Bíblia, justo é o que é bom e benfazejo conforme a
vontade de Deus. A justiça é a vitória do projeto de Deus.
Na época do profeta Jeremias (1a leitura), Jerusalém era uma cidade
em ruínas. Mas o profeta lhe anuncia um futuro melhor. A cidade
chamar-se-á: “Deus nossa justiça”. É Deus quem o fará. Já o apóstolo
Paulo, na 2a leitura, nos deseja crescimento na justiça, para sermos
encontrados irrepreensíveis, quando Jesus vier de novo.
No evangelho, Jesus fala de “sinais terríveis no céu e na terra,
anunciando a vinda do Filho do Homem”, isto é, Jesus mesmo, a quem Deus
deu o poder sobre a humanidade (como aparece na visão do Filho do Homem
em Dn 7,13-14). Isso não nos deve assustar. Pelo contrário! Se
estivermos comprometidos com a justiça do Reino de Deus, poderemos
“ficar em pé” diante dele. Se estivermos colaborando para que a nossa
cidade se possa chamar ”justiça de Deus” – e não apenas “capital do
boi” ou “das abóboras” -, a vinda do Filho do Homem será nossa grande
alegria.
Por um lado, sabemos que o mundo é passageiro. Não é nosso último
destino. Por outro lado, o que podemos fazer de nossa vida, o sentido
que podemos dar à nossa vida, é neste mundo que o devemos fazer. O que
importa, no fim de tudo, é o que fizermos neste mundo, a justiça e o
amor que fizermos brotar nesta lavoura que é a história da humanidade –
os frutos que Deus espera de nós. Por isso, Jesus nos lembra desde já a
sua vinda, para que tenhamos sempre o verdadeiro fim diante dos olhos:
“Deus nossa justiça”, o amor e a justiça de Deus tomando conta de tudo.
Isso não acontecerá sem a nossa participação. Deus faz aliança
conosco. Somos os seus parceiros. Neste tempo do Advento, da chegada de
Deus até nós, vamos colaborar com ele e realizar a nossa parte da
aliança: justiça social, pão e direitos para todos; transformar os
mecanismos falhos, as estruturas injustas de nossa sociedade;
endireitar as relações com os nossos semelhantes, empenhar a nossa vida
por nos tornarmos mutuamente irmãos de verdade, felizes, consolados,
amparados…
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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