"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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PAX ET BONUM

sábado, 4 de agosto de 2012

REFLEXÃO DOMINICAL

A vontade de Deus e o “Pão da Vida”

A liturgia de hoje é estruturada pela oposição tipológica entre o maná, o
“pão do céu” do A.T. (tipo), e Jesus, o verdadeiro “pão do céu” do N.T. (antítipo), explicitação daquilo que significa o “sinal do pão” (cf. dom pass.). Como maná do A.T., também o pão multiplicado era apenas material, e quem o procura por seu valor material está perdendo o mais importante: neste ponto começa o evangelho de hoje.

Depois da multiplicação dos pães, vendo que o povo o entendera mal (6, 14-15) Jesus se tinha retirado para a montanha, sozinho, enquanto os discípulos atravessaram o lago. O povo tinha observado isso. Procuraram então Jesus perto do lugar onde tinha realizado o milagre, mas, não o encontrando, voltaram a Cafarnaum, em outros barcos (6,22-24). E aí encontraram Jesus (que tinha atravessado o lago andando sobre as on­das). Admiram sua presença, mas com a mesma superficialidade que os levou a ver no sinal do pão não um sinal, mas apenas a satisfação de sua fome: é o que Jesus lhes re­preende (6,26).
Inicia então um diálogo, em que o pessoal de Cafarnaum aparece como preocupa­do com a Lei, mas obtuso quanto à realidade de Deus. Perguntam o que devem fazer. Jesus lhes diz que a obra do Pai é que acreditem no Filho (10 6,28)! Então, pedem um sinal como o de Moisés (o maná). Jesus responde que o sinal não era de Moisés (relati­vização do sistema mosaico, do qual eles são os árduos defensores contra os cristãos, expulsos da sinagoga), mas de Deus. Este mesmo Deus dá agora mais do que um sinal; oferece a plenitude de sua obra: seu enviado, Jesus Cristo, que faz o homem viver verdadeiramente, por sua palavra.
A 1ª  leitura lembra o que é o maná: 1) um pão material e perecível (leia Ex 16,19-30, as regras de recolhimento diário e conservação do maná); 2) uma coisa dada por intermédio de Moisés (conforme Jo 6,32, os judeus parecem ter esquecido que Moisés fora apenas o intermediário); 3) algo que não se sabe o que é, pois o nome que lhe deram, “maná”, significa “Que é isso?” A isso, o evangelho opõe o pão do N.T.: 1) uma comida que não perece, mas que permanece para a vida eterna (6,27); 2) uma obra de Deus mesmo (6,32); 3) uma realidade bem determinada: é Jesus em pessoa, acolhido na fé (6,35).
Esse contraste é acentuado pelo salmo responsorial, que evoca a maravilha do pão que Deus “fez chover do céu” (o texto que os judeus citam para Jesus: Jo 6,31 = Sl 78[77],24), enquanto a aclamação ao evangelho opõe a isso a realidade que se mani­festa no N. T.; não só de pão é que se vive, mas, antes de tudo, da “palavra” que vem da boca do Altíssimo.

Entre os dois painéis dessa tipologia antitética fica prensada a 2ª leitura. Fala tam­bém da oposição entre o antigo e o novo. O antigo, aí, não é tanto o sistema da Lei judaica, mas o paganismo, do qual provém boa parte dos cristãos de Éfeso. Os pagãos não procuravam “obras de Deus” ultrapassadas, como os judeus. Simplesmente eram dirigidos por concupiscências. Seja como for, tanto o judeu apegado ao sistema mosaico quanto o pagão envolvido com ídolos falsos (e esse pagão vive no meio de nós) devem abrir o ouvido para Cristo, a palavra da verdade que vem de Deus.
A audiência dada a Cristo é que faz viver verdadeiramente: esta é a mensagem de hoje. Por isso, Jesus é chamado “o Pão da Vida”. Concretamente, temos em nós o judeu de Cafarnaum e o pagão de Éfeso; o homem que quer ficar em dia com mediante determinadas práticas religiosas e o ateu prático, que decide na vida tudo conforme seu proveito imediato. Nem uma nem outra coisa serve para realizar o sentido eterno de nossa vida. Não devemos querer ter a última palavra, mas entregar-nos ­àquele que traz o selo de garantia de Deus (10 6,27). Arriscar o caminho da vida que ele nos mostra em sua própria pessoa. Pois ele não apenas ensina, ele é palavra, fala  ­por sua maneira de ser. Jesus não ensina “coisas”, mas se apresenta a nós, e na medida em que temos comunhão com ele, imbuindo-nos de seu modo de ser, de seu espírito, ­vivemos realmente. Isso se manifestará na doação sem restrição, da qual ele nos deu o exemplo. A vida verdadeira, que não perece, é a vida dada como ele a deu.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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