Missa de Ação de Graças no Mosteiro das Clarissas de Guaratinguetá dá inícia ao ano jubilar clariano
Por Moacir Beggo
No belo mosteiro Mater Christi, no interior da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, a Província Franciscana da Imaculada Conceição deu início às celebrações do 8º centenário da consagração de Santa Clara na Porciúncula e, consequentemente, do 8º centenário de fundação da Segunda Ordem Franciscana, a das Irmãs Clarissas. O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, presidiu a Missa de Ação de Graças e lembrou que esta mesma celebração, com gestos e formas diferentes, está se repetindo em todo o mundo, para exatamente mostrar à Igreja de Deus e ao mundo a grandeza desta “figura tão importante, tão bonita, que nós carinhosamente chamamos de Plantinha de São Francisco de Assis. Uma plantinha que não cresceu à sombra de São Francisco, mas que cresceu com São Francisco, no mesmo vigor e entusiasmo no seguimento de Jesus Cristo”.
Frei Fidêncio teve como concelebrantes Frei Raimundo Justiniano de Oliveira Castro, que é assistente nacional da Federação das Irmãs Clarissas; Frei Hans Stapel, um dos fundadores da Fazenda da Esperança; Frei Marco Antônio dos Santos, mestre dos postulantes do Seminário Frei Galvão e assistentes das Clarissas de Guaratinguetá; e Frei Wilson Steiner, vice-mestre dos postulantes. Da cidade, participaram religiosos e religiosas, os postulantes, a Ordem Terceira Franciscana, as Irmãs de Siessen e todos os jovens atendidos no projeto da Fazenda da Esperança, Centro Masculino, que lotaram a capela.
Para o mosteiro e suas 22 irmãs foi um momento de júbilo e muita alegria. A celebração teve início às 17 horas, do sábado (16/04), e foi marcada por muito simbolismo. Todo o altar foi decorado com ramos de palmeiras, que foram abençoadas pelo celebrante e entregues pelos frades a cada uma das irmãs clarissas. Mas para uma delas, o momento foi especial: a jovem Débora Alice foi acolhida pelo mosteiro para iniciar a experiência que fez Santa Clara há 800 anos. Frei Fidêncio chamou-a para o altar, deu a bênção e lhe entregou um ramo. Em seguida, ela foi se juntar com as irmãs no claustro. Já as irmãs professas fizeram a renovação dos votos.
Na sua homilia, Frei Fidêncio explicou o significado daquele momento especial para as Clarissas e para a família franciscana. “Santa Clara, bem no finalzinho de sua vida, retomou a historia da sua vida e recordou a origem da sua própria vocação. Por isso, ela escreve no seu Testamento: entre tantos benefícios que diariamente recebemos do Deus da Misericórdia está a nossa vocação. A vocação é o dom, a dádiva mais preciosa que recebemos de Deus. E, na sequência, ela diz que, quanto mais vivermos com intensidade e aperfeiçoarmos dentro de nós o dom da vocação, tanto mais necessitamos restituir esta dádiva a Deus. Se Deus nos deu o dom da vocação, nós somos devedores dessa dádiva divina”, explicou Frei Fidêncio.
“Mas como Clara descobriu essa vocação?”, perguntou. “Eu diria que, como São Francisco, ela deixou-se inquietar pelo Evangelho, isto é, pela própria pessoa de Jesus Cristo”, acrescenta o Ministro Provincial que passa a narrar o momento da celebração litúrgica do Domingo de Ramos em que Clara recebe do bispo Guido a palma benta, gesto que pode ser interpretado como o consentimento da Igreja para com a decisão Clara. Decisão que vai ser ratificada no anoitecer daquele Domingo da Paixão: Clara foge da casa paterna para abraçar com toda a radicalidade o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Na noite do Domingo de Ramos de 1212, a jovem nobre de Assis deixou a casa paterna para chegar às escondidas à pequena igreja da Porciúncula (Assis), onde vivia Francisco com seus irmãos, com o desejo de seguir seu ideal evangélico. Segundo Frei Fidêncio, Clara, então, humildemente prostrada faz a tonsura dos seus cabelos e, mais humildemente ainda, reveste-se com o hábito da penitência, ou seja, o pano pobre. “Clara, mulher leiga, se consagra a Deus pela mediação de outro leigo, São Francisco de Assis! Um gesto de ousadia, porque quem podia receber naquele tempo uma virgem consagrada era só o bispo”, conta o Ministro. A partir daquele momento, com o cabelo tonsurado, Clara começou a viver sua vida de penitência, primeiro no Mosteiro das Beneditinas de São Paulo e depois na Igreja de Santo Angelo de Panzo para, finalmente, terminar o seu projeto de vida no Conventinho de São Damião, em Assis.
“Hoje, 800 anos depois, simplesmente queremos recordar e trazer para o presente, aquele gesto tão importante: Clara rompe com o mundo para colocar sua inteira existência dentro do sonho de Deus”, frisou Frei Fidêncio.
Segundo ele, não foi um gesto fácil, mas de muito amor: “Há oitocentos anos, Clara fez este gesto para dizer que todos nós também temos uma vocação e precisamos ser responsáveis por ela. Nós, frades menores, as irmãs clarissas, as irmãs e irmãos da Terceira Ordem Secular, as Irmãs de Siessen, a Família da Fazenda da Esperança, os nossos postulantes que estão iniciando a perfazer esse caminho, todos precisamos tomar nossa decisão na vida cristã: seguir com radicalidade o Evangelho de Nosso Senhor”.
Frei Fidêncio lembra que a decisão de Clara não teve mais volta. “Ela abraçou essa causa. E foi se recolher no silêncio da clausura de São Damião. Não para fugir do mundo, mas para, a partir da clausura, lembrar a todos nós grandeza da dimensão orante”, completou.
A Ordem de Santa Clara no Brasil
A partir daquele domingo de Ramos, nascia a Segunda Ordem Franciscana. Clara acolherá imediatamente várias jovens da região, animadas por seu mesmo desejo, e muito rápido o movimento envolverá mulheres de diversas classes sociais de todo o continente europeu. A originalidade da instituição evangélica de Santa Clara impressiona entre outras coisas que haja sido a primeira mulher medieval a redigir uma regra para mulheres.
Essa mesma originalidade faz com que a Segunda Ordem Franciscana continue atraindo jovens para seguir esta forma de vida. No Brasil, segundo a presidente da Federação da Sagrada Família, Ir. Maria José da Rosa Mística, a Ordem tem muitas vocações. No Mosteiro de Guaratinguetá, a sede da Federação, vivem 22 irmãs. No Brasil, são cerca de 300 religiosas, espalhadas em 20 mosteiros. Atualmente as Clarissas chegam a vinte mil no mundo, em 986 Mosteiros.
Mas por que essa vida de clausura e pobreza atraem as jovens? Segundo Ir. Maria José, não há segredo de animação vocacional: “É o modo pelo qual abraçamos nossa forma de vida na radicalidade do Santo Evangelho”. As irmãs vivem sem nada de próprio e o seu sustento depende de doações aos mosteiros. A maioria faz trabalhos artesanais e manuais para ajudar neste sustento.
As festividades do Ano Jubilar apenas se iniciaram. Serão mais intensas a partir do início de agosto, quando se celebra o Dia de Santa Clara de Assis, em 11 de agosto.
Veja imagens da celebração
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