"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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PAX ET BONUM

sábado, 14 de julho de 2012

Jesus envia seus mensageiros

Num contexto amplo que evoca a preparação dos discípulos, Jesus manda estes para uma missão urgente, não permitindo que levem mais do que o estritamente necessário: um par de sandálias e o bastão do profeta itinerante. Comparando com 2Rs 4,29 (a pressa de Giezi, levando o bastão de Eliseu), temos a impressão de que se trata de uma coisa de vida ou morte. (Esta pressa ficou melhor conservada ainda na outra ver­são, em Lc 10,4: não devem entrar em casa de ninguém só para saudá-lo, nem mesmo podem saudar alguém no caminho.) A efervescência da missão de Jesus, anunciando a proximidade do Reino de Deus, teve esta característica: a última chance!
Mc insiste, porém, sobretudo na “imitação de Cristo”. Os apóstolos recebem dele “autoridade” (assim como Eliseu, da parte de Elias: 2Rs 2,9-15) para curar, exorcizar e fazer os sinais que ele fazia. Essa imitação inclui também o ser rejeitado (Mc 6, 11; cf. 6,1-6a, dom. pass.). Nesse caso, deverão sacudir o pó de suas sandálias em testemunho contra a cidade que não os receber: a cidade teve sua chance (cf. Ez 2,5; dom. pass.).
Neste ponto, o evangelho tem ligação com a 1ª  leitura: o profeta Amós, rejeitado pelo sacerdote Amasias de Betel (em Israel, reino do Norte) e intimado a voltar à sua região de origem, Judá (reino do Sul). As razões do sacerdote são razoáveis; Amós pa­rece um daqueles nabis profissionais, videntes carismáticos, muitas vezes pouco fide­dignos e desprezados pelo povo (cf. 1 Sm 10,11). “Não, diz Amós, eu não sou um vi­dente profissional, não viro a cabeça das pessoas para ganhar dinheiro. Sou um homem com duas profissões bem honestas: pastor e cultivador de sicômoros. Mas Deus é que me tirou de trás do rebanho e me forçou a profetizar, fora de minha terra, em Israel”.
Amós pertence a um novo tipo de profetas, não mais os tradicionais videntes, mas representantes dos movimentos de renovação religiosa, dos quais o mais marcante é o que produziu o livro do Deuteronômio. Eles se sabem enviados por Deus, mesmo a re­giões fora de sua jurisdição natural, com uma mensagem de conversão. Conhecidos são os oráculos pouco reverentes de Amós contra a aristocracia de Samaria (cf. a se­qüência da presente leitura: Am 7,16-17; ou as advertências às senhoras de Samaria em Am 4). É este o tipo de missão que a liturgia de hoje evoca, na 1ª leitura e no evangelho: uma advertência ao povo instalado, para provocar sua conversão. Missão por inicia­tiva de Deus, muitas vezes contra a vontade do próprio profeta, para denunciar e assim lograr conversão. Ora, no N.T. esta missão é acompanhada por sinais de benevolência, pois o Reino que eles manifestam presente é um Reino de graça e misericórdia.
O enviado não executa sua missão como ganha-pão. Deus revoluciona sua vida, e tem uma mensagem revolucionária a lhe confiar. Impelido por Deus, acolhido ou rejeitado pelos homens, eis a vida do enviado, ao modelo de Jesus Cristo. Na Igreja, como no antigo Israel, os porta-vozes oficiais transformaram, às vezes, a missão em ganha-pão. Mas cada época da história da Igreja é marcada por movimentos de renovação pro­fética, para que se realize sempre de novo o que Paulo resume vigorosamente em 2Cor 5,14:  ”A caridade de Cristo nos impele”.
A 2ª leitura é o rico início de Ef, resumindo a palavra que deve ser anunciada, o “evangelho” de Paulo (1,13), como bênção de Deus em Jesus Cristo, eleição e vocação à santidade, “projeto”(predestinação) de adoção filial, e tudo isso, graças ao sangue do Cristo, que nos remiu. Ele remiu tudo para Deus; tudo é agora dele. Por isso, o plano de Deus é: recapitular tudo em Cristo. Dando crédito à realidade anunciada no evangelho (a “Palavra da Verdade”, 1,13), recebendo a garantia de Deus: seu Espírito, penhor de nossa herança, antegosto daquilo que esperamos. É notável o contraste entre a situação original da pregação de Jesus (a efervescência apocalíptica da iminente irrupção do Reino) e a interpretação bem mais espiritual da realidade escatológica em Ef. Há mais de trinta anos de distância; dirige-se a uma outra cultura. Mas é substancialmente a mesma mensagem: não deixeis escapar a realização da promessa. A aclamação ao evangelho sublinha bem a atitude que devemos adotar diante dessa mensagem.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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