O sacrifício de Jesus
Chamamos a missa “sacrifício de Cristo”. Mas esse modo de falar enfrenta oposição, talvez porque entendemos o termo “sacrifício” de modo errado, não como oferta e sim como castigo imposto por Deus.A liturgia da SS. Eucaristia insiste muito na ideia do sacrifício. Não devemos relacionar isso precipitadamente com imolação, vitimação. Muito menos, com pagamento sangrento pago por Jesus pela infinita ofensa que Adão e nós cometemos contra a infinita dignidade de Deus. Sacrificar significa, antes de tudo, oferecer ou dedicar algo ao Santo, que é Deus. E isso acontece de muitas maneiras. A liturgia de hoje é uma oportunidade para compreender o “sacrifício” eucarístico.
A 1ª leitura evoca a Aliança entre Deus e seu povo, celebrada pelo sacrifício de algumas cabeças de gado. A 2ª leitura lembra o sangue dos animais, que, cada ano, devia purificar o povo, no Dia da Expiação. Esse rito é agora substituído pelo dom da vida de Jesus, que derramou sua vida por nós e nos purificou de todo pecado, uma vez para sempre. Jesus é o único sacrifício da Nova Aliança, como ele mesmo deu a entender na sua última ceia: “O sangue da (Nova) Aliança, derramado em prol da multidão” (evangelho). Suplantando os antigos sacerdotes bem como as vítimas, ele esparramou seu próprio sangue sobre o mundo.
Ora, não é o sangue por si mesmo que salva, como se fosse o sangue de uma galinha preta. O que salva é o amor e a fidelidade que levaram Jesus a enfrentar a morte cruel e sangrenta e a dedicar assim sua vida – representada pelo sangue – a Deus e à sua obra de amor e salvação. Depois da morte de Jesus por amor não há mais outro sacrifício da Aliança. O amor que o levou a derramar sua vida é válido para sempre. A Eucaristia celebra esse sacrifício único, esse gesto de amor, que basta para sempre e permanece atual em todo tempo. No pão e no vinho da última refeição de Jesus, a Eucaristia torna presente a doação da vida de Jesus até o sangue. “Prova de amor maior não há … ” O sacrifício é um só, de uma vez para sempre. As celebrações são muitas.
A reconciliação com Deus não vem de algum sangue que lavasse magicamente, mas do amor que se torna sacrifício dedicado ao Santo, a Deus. Amor que doa corpo e sangue, vida. A celebração do corpo e sangue de Cristo tem algo vital, algo que mexe com as nossas veias. Devemos unir-nos a seu amor, entregando nosso corpo e sangue para pô-lo a serviço de nossos irmãos. Assim seremos consagrados com Jesus (Jo 17,17-19), “oferenda perfeita” com Cristo (Oração Eucarística III).
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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