“Ai dos que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam ao chão” (Am 5,7)
Fatos políticos e administrativos,
que contrariam a ética pública e o bem comum, têm sido fartamente
divulgados pela Imprensa, provocando uma reação de indignação e
perplexidade na sociedade brasileira. Chega-se mesmo a colocar em xeque
a credibilidade das instituições, que têm o dever constitucional de
combater a corrupção e estancar a impunidade, que alimenta tal prática.
A Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil-CNBB, solidária a este sentimento que inquieta a população,
vem, através do Conselho Permanente reunido em Brasília de 20 a 22 de
junho, manifestar, mais uma vez, sua grave preocupação com estas
suspeitas de violação aos princípios da moralidade e da legalidade
consubstanciados na Constituição Federal.
Já em 1993 a CNBB questionava:
“Como não denunciar a grande criminalidade dos que desviam, em proveito
pessoal, enormes somas dos órgãos públicos, provocando escândalo e
revolta, muitas vezes impotentes, da parte dos humildes, a quem estavam
destinados esses bens? Como não solicitar que os crimes mais graves
sejam punidos e que a lei não seja severa apenas com os pequenos
infratores, sem jamais atingir os poderosos e espertos? Como tolerar
que a um grande número de denúncias comprovadas de corrupção e prejuízo
dos cofres públicos não corresponda igual número de punições e
ressarcimentos? A impunidade é um incentivo constante para novos crimes
e novas violências” (CNBB, Ética, Pessoa e Sociedade, n. 143, 1993).
O senso de justiça, sempre presente
na consciência da nação brasileira, é incompatível com as afrontas ao
bem comum que logram escapar às penas previstas, contribuindo para a
generalizada sensação de que a justiça não é a mesma para todos. Todo
cidadão tem o direito à correta gestão de assuntos e serviços públicos,
afastando-se a deletéria, porque corrupta, conduta dos governantes de
tratar a coisa pública, o patrimônio e negócios públicos, como objetos
pessoais postos a usufruto particular e partidário, e à satisfação de
caprichos egoístas.
A sociedade brasileira espera e
exige a investigação de toda suspeita de corrupção bem como a
consequente punição dos culpados e o ressarcimento dos danos. O que
temos assistido, no entanto, parece apontar em direção oposta quando
muitos fatos, no passado e no presente, ficam sem solução e caem no
esquecimento. Isso explica o crescente desencanto da sociedade com as
instituições públicas. Os mecanismos que têm a responsabilidade de
passar a limpo as corrompidas estruturas do país caem no descrédito e
ficam desmoralizados se não cumprem o papel a que se destinam. Nenhum
outro interesse pode subjugá-los senão o do resgate da ética no trato
com a coisa pública.
Reafirme-se que a força dos três
poderes da Repúbica está na sua harmonia, no pleno respeito à sua
correspondente independência e autonomia. Os que respondem diretamente
por seu funcionamento, no entanto, nunca se esqueçam de que o poder que
exercem provém da sociedade. Da mesma forma, o agente político se
recorde de que é seu dever ultrapassar as fronteiras
político-partidárias, as condicionantes de oposição-situação, para
colocar-se a serviço do Estado e da sociedade, sem confundir jamais o
público com o privado, o que constituiria grave ofensa à legislação e
desrespeito à sociedade.
No compromisso de construir uma
sociedade justa e solidária, inspire a todos a palavra de Jesus Cristo:
“Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do
Maligno” (Mt 5,37).
Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, abençoe nosso povo e anime sua esperança!
Brasília, 22 de junho de 2012
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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