"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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PAX ET BONUM

sábado, 16 de junho de 2012

11º DOMINGO DO TEMPO COMUM 
Por Frei Jacir de Freitas Faria, OFM (*)

I. INTRODUÇÃO GERAL
A primeira leitura e o evangelho de hoje tratam do desejo do povo judeu exilado de tornar-se liberto, uma grande e soberana árvore; e da definição que Jesus deu do Reino de Deus. As duas posturas incomodam; a primeira exige coragem e esperança, a segunda, desinstalação. O Reino, por si só, impregna sua força em que o acolhe e em que o rejeita.
II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Ez 17,22-24): Israel é como uma árvore frondosa e liberta do reino opressor 
Ezequiel, o homem que se tornou profeta no exílio da Babilônia (597-536 a.E.C.), animou o seu povo a permanecer firme na aliança com Deus, pois o sofrimento do desterro haveria de chegar ao fim com a chegada da era messiânica e um novo tempo para os judeus. Deus haveria de extirpar o inimigo.
Fazendo uso do simbolismo do broto de cedro, árvore de boa qualidade, que seria colhido e plantado sobre o alto monte de Israel, o profeta explicita a sua mensagem de fé. Essa árvore, Israel, tornar-se-ia grande,  produziria frutos e serviria de abrigo para os pássaros. A comparação serviu de consolo para os oprimidos. Um novo tempo haveria de surgir, não obstante os sofrimentos. E assim ocorreu, a Pérsia dominou a Babilônia e o seu rei, Ciro, permitiu ao povo retornar e recomeçar a vida em Judá. Desse modo,  concretizou-se a profecia: “Deus abaixa a árvore grande (império babilônico) e eleva a árvore pequena (os israelitas oprimidos)”. Ademais, o Deus de Israel, por ter o poder sobre a vida, é capaz de secar a árvore verde e fazer brotar a árvore seca. Deus fala e realiza a sua promessa.
 

2. Evangelho (Mc 4, 26-34): O reino de Deus é como a semente e o pé de mostarda
O evangelho do domingo passado tratou da crise entre Jesus, seus irmãos e os escribas, os quais se opunham ao seu ensinamento. Em continuidade a esse  episódio, hoje, Jesus aparece, conforme o relato da comunidade de Marcos, ensinando de novo (Mc 4,1), mas em forma de parábola, isto é, de modo comparado. Jesus faz uso da realidade agrária da Palestina para fazer os seus seguidores entenderem a sua mensagem. Ele não explica a comparação, mas deixa o ouvinte pensando sobre o fato. Aos seus discípulos (as), no entanto, ele explicava em particular (4,34).
O evangelho de hoje trata de duas parábolas do reino: a da semente e a do grão de mostarda. Cada uma delas tem um centro, um entendimento possível.
  1. A semente que germina por si só. Crescer por si só é o centro dessa parábola. A mensagem é simples, basta semear o reino e ele crescerá, mesmo que os opositores não queiram. O importante é semear sempre. Jesus incentiva os seus seguidores, seus irmãos na fé, a permanecerem no árduo trabalho de semear o reino. A semente, o reino, cresce por si só. Não há como impedi-lo.
a)    A mostarda que cresce e incomoda. Essa parábola nos permite três interpretações diferentes, três modos de entender o centro, que pode recair na semente, na árvore ou no pé de mostarda. A) O reino é como a pequena semente. Essa interpretação é a mais recorrente. O centro da parábola consiste na passagem do pequeno para o grande. A pequena semente de mostarda é o novo Israel, isto é, os seguidores de Jesus, os quais se tornarão “grandes árvores”. O evangelho apócrifo de Tomé 20, bem como Marcos 4,30-32 e Mateus 13,31-32, com exceção de Lucas 13,18-19, falam desse algo menor que fica grande. Cada seguidor do Reino é chamado a lavrar constantemente o seu interior para deixar a semente do reino crescer e produzir abundantes frutos. B) O reino é como a grande árvore. Visto desse modo, o pequeno Israel tornar-se-ia uma grande árvore apocalíptica. Textos do Primeiro Testamento falam do cedro do Líbano como árvore apocalíptica (Sl 104,12; Ez,31,3.6; Dn 4,10-12), na qual os pássaros fazem os seus ninhos. Possivelmente, o centro da parábola não esteja também na grande árvore, pois se, de fato, Jesus quisesse referir-se a uma árvore apocalíptica, ele teria mencionado o cedro e não a mostarda. C) O reino é como o pé de mostarda. A mostarda é uma planta medicinal e culinária que chega a medir, no máximo, 1 m e ½ de altura. Ela se desenvolve melhor ao ser transplantada. Depois de plantada, a mostarda torna-se uma erva daninha. Temos dois tipos de mostarda, a selvagem e a culinária. Por ser uma planta impura, o código deuteronômico (Dt 22,9) proíbe a sua plantação. Consideremos que o centro da parábola esteja no pé de mostarda, seja ele doméstico ou selvagem, e não na semente. Assim é o Reino de Deus, como a erva que  chega e se esparrama. Não pode ser controlada, torna-se abundante como a nossa tiririca, e atrai pássaros, inimigos de qualquer agricultor. O reino, depois de semeado, perde o controle, toma conta do terreno todo. Assim como o reino, a mostarda é motivo de escândalo para muitos. O reino é indesejável e violador das regras de santidade. Essa interpretação nos ajuda a compreender o valor do reino e sua ação transformadora em nossas vidas, mesmo para aqueles que nele não acreditam (Cf. FARIA, Jacir de Freitas, As origens apócrifas do cristianismo. Comentários aos evangelhos de Maria Madalena e de Tomé. 2 ed., São Paulo: Paulinas, p. 110-112).

2. II leitura (II Cor 5,6-10): a fé no reino exige responsabilidades
Em oposição ao pensamento de muitos irmãos de Corinto que, diante do sofrimento e das perseguições, pensavam que o melhor seria morrer, Paulo afirma que esse poderia ser, sim, um bom caminho, mas, melhor ainda é assumir as responsabilidades inerentes à fé até o dia de nossa prestação de contas no tribunal de Cristo (v.10). A fé no reino exige responsabilidades. Esse pensamento complementa as leituras anteriores, quando nos mostra o valor da fé e suas consequências em nossas vidas e até mesmo em nosso corpo mortal.

III.  PISTAS PARA REFLEXÃO

1. Levar as comunidades a perceber que o fruto do reino de Deus aparece lentamente. Quando menos esperamos, algo acontece.
2. Demonstrar, por outro lado, que quando agimos em prol do reino, somos como a tiririca que cresce sem pedir licença, ao incomodar os inimigos do reino da justiça e da paz.
3. Por sermos cristãos, temos uma força advinda do reino da qual não nos damos conta. Deus se dá a conhecer por sua força libertadora que se encontra no povo e em cada cristão.
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM é Padre franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos. Autor de uma centena de artigos. Autor e coautor de quinze livros, sendo o último: Infância apócrifa do menino Jesus. Histórias de ternura e travessura. Petrópolis: Vozes, 2010. Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte.
Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

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