"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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sábado, 19 de maio de 2012

ASCENSÃO DO SENHOR (20 de maio) Dia mundial das comunicações







I. INTRODUÇÃO GERAL
Celebramos hoje a ascensão de Jesus. Ascensão tem a ver com a ressurreição e tempo da igreja. Jesus volta para a casa do Pai, a morada eterna, onde todos nós esperamos estar, após nossa morte. Jesus viveu no meio de nós como um ser humano e agora volta para Deus. Somos privados de sua presença física e chamados a eternizá-lo na vida da igreja, representada, primeiramente, pela comunidade de Jerusalém. Ao mesmo tempo, nos tornamos participantes da divindade do mestre Jesus de Nazaré. O sentido último de nossa vida é Deus, autor e doador da vida plena. O humano Jesus leva consigo a natureza humana para a glória de Deus. Jesus ressuscitado permanece no meio de nós, na vida de fé da comunidade e no anúncio do reino.


 II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
 1.    I leitura (At 1,1-11): Ascensão: Jesus não foi embora, Ele está vivo em Jerusalém, a igreja
A primeira leitura de hoje, tirada de Atos dos Apóstolos, tem sua ligação com o evangelho de Lucas, duas obras que se entrelaçam, pois elas teriam saído da pena do mesmo escritor ou comunidade. O evangelho não termina, mas continua com a ação da comunidade de Jerusalém, Antioquia, Samaria, etc. Na introdução de toda a obra, Lucas se propõe a escrever uma narração ordenada dos fatos que se cumpririam entre eles. Ele dedica a sua obra a Teófilo (Lc 1,1-4) – nome grego que significa o amigo de Deus. No fim do Evangelho, Jesus promete o Espírito Santo e convoca os seus seguidores a permanecerem em Jerusalém para a realização das promessas (Lc 24, 49). Já no início de Atos, a nossa leitura de hoje, os discípulos perguntam a Jesus: “é agora que vais restabelecer o Reino de Israel?” (At 1,6). Jesus responde, dizendo que eles não devem se preocupar com a data, pois essa compete ao Pai (At 1,7). O Espírito Santo continuará a realização do prometido (1, 8a), o qual não é a restauração de Israel, mas o ser sua testemunha em Jerusalém, Judeia, Samaria e confins do mundo (At 1,8b).
Um acréscimo ao Evangelho de Lucas (24,50-53) narra a ascensão de Jesus e a volta dos discípulos para Jerusalém. Outro acréscimo em Atos resume o evangelho (1,1-2) e experiências da comunidade com Jesus ressuscitado (1,3-5).
A ascensão em At 1,9-11 é narrada para mostrar que Jesus não foi embora, mas continua vivo entre e dentro de cada apóstolo (a) que testemunha o ressuscitado. Jesus não foi embora. Só assim podemos falar teológica e historicamente de “Igrejas” de Jerusalém. Tivemos, na origem, como resultado da ação do Espírito Santo, vários núcleos do seguimento de Jesus, embora Lucas tenha, em Atos, idealizado e privilegiado  a comunidade de Jerusalém.
A ascensão somente tem sentido a partir de sua relação estreita com a comunidade de Jerusalém, que passará a ser o símbolo da igreja, que se expandirá, na sequência, para os estados da Judeia, Samaria e Galileia e daí, para os confins do mundo, isto é, o centro do mundo daquele então, Roma.
Segundo o relato de Atos, depois da ascensão, os discípulos e discípulas de Jesus voltam do monte das Oliveiras para Jerusalém. O livro dos Atos dos Apóstolos usa dois termos para falar da cidade de Jerusalém: o nome bíblico e sagrado Jerusalém (36 vezes) e o nome grego como designação geográfica Jerosolyma (23 vezes). At 1,12 fala de voltar para Jerusalém, o que significa, então, voltar para o lugar sagrado do judaísmo, para o lugar da missão, da salvação. É como um católico dizer: “vou a Aparecida do Norte”. Na cabeça de quem escreve Atos estaria, com certeza, o sonho da nova Jerusalém, pois a Jerusalém cidade já tinha sido destruída pelos romanos, quando Atos foi escrito.
A comunidade de Jerusalém é judaica de origem e, por isso, fiel observante da Torá (lei, conduta, caminho, modo de vida baseada no Decálogo); ela celebra a eucaristia como memória do martírio redentor e profético de Jesus (At 2,42-46); partilha os bens (At 2,44-45), como expressão de uma espiritualidade comprometida com a justiça; está em conflito com as autoridades locais (At 3,114,22); está centrada e unida em torno aos doze apóstolos (At 2,42; 4,23-31); tem conflitos (At 5, 1-11); opera prodígios e milagres (At 3,1-10).    
Nessas características encontramos o rosto, às vezes, idealizado da comunidade de Jerusalém. Esse modo de viver a fé na comunidade de Jerusalém foi o jeito que os primeiros cristãos encontraram para exprimir a utopia do Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus na sua integralidade e com a sua ascensão.  A ascensão de Jesus no monte das Oliveiras teria sido a sua glorificação e a certeza da sua presença definitiva na comunidade de Jerusalém de forma histórica (presente), escatológica (futuro) e pneumática (plena do Espírito Santo). Tendo Jerusalém como referência e origem da comunidade judaico-cristã, os discípulos devem partir em missão até os confins do mundo, anunciando que Jesus ressuscitou e não morreu. Este foi o grande segredo do cristianismo, caso contrário, teria se perdido, como tantas religiões do mundo antigo.
2. Evangelho (Mc 16,15-20): Ascensão: atitudes que nos põem no caminho do anúncio da Boa Notícia: Jesus ressuscitou
O evangelho de hoje nos mostra o movimento de Jesus ressuscitado, aparecendo aos onze discípulos, enquanto comiam, e o seu desaparecimento em forma de ascensão, após os instruírem na evangelização. O trecho é considerado um acréscimo ao evangelho. Jesus foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Sentar-se numa cadeira é sinal de poder. Daí que um professor torna-se catedrático. O bispo tem a sua catedral e profere sua homilia, normalmente, sentado. O poder de Jesus é transferido aos discípulos, os quais devem se colocar de pé e sair mundo afora, anunciando a sua ressurreição em movimento de ascensão, de subida, assim como um elevador, que em outras línguas latinas mantém a raiz de ascensão: ascensore, em italiano; ascensor, em espanhol.
A ação de ascensão, isto é, de movimento de permanência de Jesus, consiste em  sete atitudes: 1) anunciar a Boa Nova para toda a humanidade; 2) batizar; 3) salvar; 4) condenar; 5) expulsar demônios em nome de Jesus; 6) falar novas línguas; 7) impor as  mãos para curar doentes. Essas atitudes vêm acompanhadas da certeza de que nem serpentes e venenos serão causas de morte para os discípulos. Anunciar, crer e salvar se interagem num crescente na ação ascensional dos discípulos. É a nova língua, não se trata de um novo idioma, mas de um modo de comunicar a libertação, a vida nova do reino. Trata-se da linguagem da evangelização, não obstante as tantas línguas (idiomas) presentes. Quem caminha visando ao alto, isto é, às coisas do reino, vai se deparar com venenos e serpentes, e deles não deverá ter medo. Assim como Jesus venceu a morte, os seus discípulos serão amparados pela vida que não morre mais, a de Jesus ressuscitado, quem os acompanharia por todo o sempre. Amém!
3.    II leitura (Ef 1,17-23): Ascensão: Igreja e Reino se identificam no movimento de fé e constante conversão da comunidade  
Paulo ficou sabendo que a comunidade de Efésios estava sendo fiel a Deus na fé, no testemunho e na resistência às adversidades da evangelização. Na perspectiva da ascensão, Paulo reconhece que “Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e o colocou acima de todas as coisas, como cabeça da Igreja, a qual é o corpo, a plenitude daquele que plenifica tudo em todas as coisas” (v. 23). A teologia paulina reforça a caminhada da igreja, sinal do reino em movimento de conversão contínua e testemunho de fé em Jesus ressuscitado.
III.  PISTAS PARA REFLEXÃO
Levar a comunidade a perceber que ascensão é um movimento de ação transformadora do mundo a partir de nossa fé em Jesus ressuscitado e na ação libertadora da igreja.
Viver a ascensão significa não ficar olhando para o alto, esperando Jesus partir, mas colocar-se a caminho, no anúncio do reino, na evangelização. É tornar-se um bem-aventurado.
Evangelizar é falar a mesma linguagem, o mesmo modo de conceber o reino, e não a mesma língua (idioma). É expulsar demônios e não ter medo de serpentes e venenos, que nos impedem de caminhar.
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM é Padre franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos. Autor de uma centena de artigos. Autor e coautor de quinze livros, sendo o último: Infância apócrifa do menino Jesus. Histórias de ternura e travessura. Petrópolis: Vozes, 2010. Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte.
Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br

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