Testemunho e missão
de Jesus
O testemunho que o Senhor
dá de si mesmo e que São Lucas recolheu no seu Evangelho, "Eu
devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus",tem, sem dúvida
nenhuma, uma grande importância, porque define, numa frase apenas,
toda a missão de Jesus: "Para isso é que fui enviado".
Estas palavras assumem o seu significado pleno se se confrontam com
os versículos anteriores, nos quais Cristo tinha aplicado a si
próprio as palavras do profeta Isaías: "O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres".
Andar de cidade em cidade
a proclamar, sobretudo aos mais pobres, e muitas vezes os mais bem
dispostos para o acolher, o alegre anúncio da realização das
promessas e da aliança feitas por Deus, tal é a missão para a qual
Jesus declara ter sido enviado pelo Pai. E todos os aspectos do seu
mistério, a começar da própria encarnação, passando pelos
milagres, pela doutrina, pela convocação dos
discípulos e pela escolha e envio dos doze, pela cruz, até a
ressurreição e à permanência da sua presença no meio dos seus,
fazem parte da sua atividade evangelizadora.
O anúncio do reino
de Deus
Como evangelizador,
Cristo anuncia em primeiro lugar um reino, o reino de Deus, de tal
maneira importante que, em comparação com ele, tudo o mais passa a
ser "o resto", que é "dado por acréscimo". Só
o reino, por conseguinte, é absoluto, e faz com que se torne
relativo tudo o mais que não se identifica com ele. O Senhor
comprazer-se-ia em descrever, sob muitíssimas formas diversas, a
felicidade de fazer parte deste reino, felicidade paradoxal, feita de
coisas que o mundo aborrece; as exigências do reino e a sua carta
magna; os arautos do reino; os seus mistérios;
os seus filhos; e a vigilância e a fidelidade que se exigem daqueles
que esperam o seu advento definitivo.
Para uma comunidade
evangelizada e evangelizadora
Aqueles que acolhem com
sinceridade a Boa Nova, por virtude desse acolhimento e da fé
compartilhada, reúnem-se portanto em nome de Jesus para
conjuntamente buscarem o reino, para o edificar e para o viver. Eles
constituem uma comunidade também ela evangelizadora. A ordem dada
aos doze, "Ide, pregai a Boa Nova", continua a ser
válida, se bem que de maneira diferente, também para todos os
cristãos. É precisamente por isso que São Pedro chama a estes
últimos "povo de sua particular propriedade a fim de que
proclameis as excelências daquele que vos chamou"; aquelas
mesmas maravilhas que cada um pode alguma vez escutar na sua própria
língua. A Boa Nova do reino que vem e que já começou, de resto, é
para todos os homens de todos os tempos. Aqueles que a receberam,
aqueles que ela congrega na comunidade da salvação, podem e devem
comunicá-la e difundi-la ulteriormente.
A Igreja inseparável
de Cristo
Existe, portanto, uma
ligação profunda entre Cristo, a Igreja e a evangelização.
Durante este "tempo da Igreja" é ela que tem a tarefa de
evangelizar. E essa tarefa não se realiza sem ela e, menos ainda,
contra ela.
Convém recordar aqui, de
passagem, momentos em que acontece nós ouvirmos, não sem mágoa,
algumas pessoas, cremos bem intencionadas, mas
com certeza desorientadas no seu espírito, a repetir que pretendem
amar a Cristo mas sem a Igreja, ouvir a Cristo mas não à Igreja,
ser de Cristo mas fora da Igreja. O absurdo de uma semelhante
dicotomia aparece com nitidez nesta palavra do Evangelho: "Quem
vos rejeita é a mim que rejeita". E
como se poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o
mais belo testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes
termos: "Ele amou a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela"?
(EXORTAÇÃO
APOSTÓLICAEVANGELII
NUNTIANDIDO
PAPA PAULO VI)
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