"EU SOU O BOM PASTOR;O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS."( JO 10,11)

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PAX ET BONUM

sábado, 3 de dezembro de 2011

LITURGIA DOMINICAL- II DOMINGO DO ADVENTO

A conversão, início
da boa-nova

Do 2° domingo do Advento em diante, a perspectiva escatológica de nossa
existência (cf. dom. pass.) é iluminada a partir de sua “fonte”, a primeira vinda de Cristo. Enquanto o 1° domingo fala
da segunda vinda de Cristo e esboça uma visão escatológica do dia de hoje
à luz da segunda vinda, os demais domingos do Advento recordam e
contemplam o acontecimento da primeira vinda. Na primeira vinda do
Cristo está arraigado o sentido definitivo de nosso existir: é o momento fundador.
Jesus Cristo é o início e o fim da existência humana plena, o Alfa e o Ômega (Ap 22,13).
A chegada deste momento fundador é a grande notícia da História, a boa-nova por excelência. O evangelho “querigmático” de Mc vê como início desta boa-nova o apelo à conversão, lançado por João (evangelho), realizando plenamente o que o “Segundo Isaías” prefigurou, quando, pelo fim do exílio babilônico (535 a.C.), conclamou o povo para preparar um caminho para Deus, que ia reconduzir os cativos. Era um apelo à conversão, pois deviam preparar a volta, “voltando” (= convertendo-se) para Deus, agora que este determinou o fim do castigo (Is 40,2) (1ª leitura). Deus reconduz os cativos. Ele mesmo vai com eles. Como um imperador na entrada gloriosa (“parusia”), ele se faz preceder pelos frutos de sua conquista: o povo resgatado (40,10). Como um pastor, reúne suas ovelhas. E com que ternura! Leva os cordeirinhos nos braços e conduz devagarinho as ovelhas que amamentam (40,11).
Esta era a boa-nova que Jerusalém, qual mensageira, devia publicar para o mundo (40,9). Assim, também, a conversão pregada por João é o início da perfeita boa-nova da vinda definitiva de Deus e seu Reino, em Jesus Cristo. A conversão faz parte da boa-nova, pois é nossa participação na salvação que Deus nos destinou. Deus já voltou seu coração para nós; resta-nos correspondermos. A conversão apregoada por João é simbolizada pelo batismo nas águas do Jordão. Se, naquela região semidesértica, a água tem por si mesma um sentido de salvação, ela lembra também a efusão escatológica do Espírito, e ainda a travessia do Mar Vennelho (Ex 14) e a travessia do Jordão quando da entrada na Terra Prometida (Js 3). A alusão a Is 40,3 lembra também a volta do exílio, concebida como um novo êxodo. O batismo de João é um símbolo da salvação, e a confissão dos pecados, pelos habitantes de Judá (Mc 1,5), significa a participação nesta salvação. Pois como pode o coração alegrar-se com a vinda do esperado, se não expulsar o pecado que lhe pesa (cf. SI 51 [50],5)?
Por seu modo de vestir e alimentar-se, João evoca o deserto (1,6), pois é a partir daí que o povo deve atravessar o Jordão e penetrar na Terra da Promessa. Evoca também Elias (cf. Mc 9,13; Mt 17,13), que os judeus esperavam voltar como precursor do Messias (Ml 3,1.23-24; cf. Mc 1,2). Anuncia um “mais forte”, que virá depois dele, para “batizar com o Espírito Santo (dom escatológico: cf. Jl 3,1-2; Ez 36,27 etc.).
O batismo de conversão fazia parte da chegada do Reino. Nossa existência se situa entre a chegada e a plenificação do Reino. Por isso, a conversão é “pão nosso de cada dia”, nossa contínua participação no Reino que vem de Deus. É o que expressa, de modo um tanto ingênuo, a 2ª leitura de hoje. Os cristãos das primeiras gerações esperavam a segunda vinda de Cristo para breve. Entretanto, o atraso tornava-se sempre mais notável e o escárnio do mundo sempre mais agressivo. Diante da impaciência e, quem sabe, desespero e desistência, que isso gerava, Pedro responde: Deus tem tempo: ele quer que todos se convertam, para que todos possam participar. Mas, mesmo assim, ele não desiste de seu projeto, pois ele deseja que tudo esteja em harmonia consigo. Só que ele não quer expurgar os “elementos nocivos” da criação antes que todos tenham a oportunidade de se converter, isto é, de se tomar participantes. Mas ele realizará, sem que saibamos o dia e a hora, seu “novo céu e nova terra” (2Pd 3,13), e então será bom estarmos de acordo com esta nova realidade (3,14).
Talvez possamos traduzir este pensamento, expresso na linguagem apocalíptica do século I, numa linguagem mais adequada para hoje, dizendo que Deus exercerá, por Cristo, seu absoluto senhorio da História, dando, porém, aos homens chances para participar desta “sua” História, pela adesão pessoal à sua vontade, no empenho em construir um mundo compatível com Deus. A História não é um absoluto, uma espécie de deus, mas um projeto do Deus de Jesus Cristo, projeto que não acontece fatalmente, mas com participação do ser humano. Convertendo-se cada dia de novo a Deus, o homem-filho de Deus realiza uma vocação inalienável. O homem não é um agente impessoal da História que se constrói, mas um filho de Deus que constrói a História de Deus. Essa construção é fazer chegar o Reino, “apressar o Dia”, por nossa participação, desde já. Não esquecendo, porém, que Deus tem a última palavra sobre a História e sobre nós que a fazemos.
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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